Caos, Complexidade, Comunicação ‘Rogeriana’ e o Processo de Ensino-Aprendizagem: um estudo observacional
Resumo
Este artigo apresenta uma análise ‘rogeriana’ da comunicação, à luz da teoria do caos e da complexidade, retratada no filme ‘Náufrago’, de Robert Zemeckis (2000), cujas características expressas podem ser, por vezes, difíceis para identificação e análise, por meio de discussões diretas em interações humanas. Com o suporte da teoria do caos e da complexidade, aliada à abordagem ‘rogeriana’, busca-se responder à questão de como a comunicação pode ser utilizada em prol do processo de ensino-aprendizagem em Administração. O uso de filmes tem a vantagem de não expor os seres humanos a situações para as quais eles não estejam preparados e, sobretudo, encerra o poder de verificar repetidamente as cenas para que os conceitos e processos humanos possam ser compreendidos e, posteriormente, apreendidos para se proceder a auto-análise. A questão de pesquisa é considerada parcialmente respondida, quando levadas em conta tais prerrogativas. A análise dos discursos de Chuck, apresentados nas partes I, II, III e IV do filme, ajudam a responder à questão, uma vez que esses discursos apresentam o gestor e o ser humano simultaneamente, capaz de: comunicar unilateral e duramente as orientações aos funcionários; mostrar sensibilidade para ouvir; demonstrar profunda satisfação em ser ouvido; exercer a capacidade de ser mais autêntico e, em consequência, de provocar maior autenticidade nos outros; auto-organizar-se, a partir de um evento caótico e complexo; promover crescimento que faça sentido para as interações humanas. Considera-se que o processo de ensino-aprendizagem em Administração pode ser desenvolvido por meio de atenção: às comunidades que podem ser formadas a partir da sala de aula; à participação livre das pessoas em seus relacionamentos nessas comunidades; às possibilidades de criação de relações eficazes por intermédio da análise de filmes comerciais como recursos didáticos; às discussões acerca dos elementos contidos na concepção ‘rogeriana’ da comunicação; às possibilidade de as análises fílmicas servirem de pontes entre os personagens e as pessoas que ocupam seus lugares nas instituições de ensino e nas organizações.
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