INFLUÊNCIAS INTERGERACIONAIS NO CONSUMO DE COSMÉTICOS AFROS POR MULHERES AUTODECLARADAS NEGRAS
Resumo
Este artigo busca discutir os resultados de uma pesquisa cujo objetivo foi analisar como a beleza e a autoaceitação da mulher negra são ressignificados na relação intergeracional entre mãe e filha, a partir do consumo de cosméticos afros. A revisão da literatura ressaltou a discussão sobre os estudos de família no campo do consumo, sobre influência intergeracional e as questões envolvendo raça e consumo. O estudo foi conduzido por meio de uma pesquisa qualitativa exploratória que entrevistou 14 mulheres autodeclaradas negras, com idades entre 23 e 55 anos, com escolaridades diversas, residentes em Belo Horizonte e consumidoras de cosméticos afros. Como método de análise dos relatos coletados nas entrevistas foi utilizada a Análise do Discurso Pecheutiana. Dessas análises, emergiram três principais categorias: “Ressignificando a beleza negra”, “Consumo intergeracional de cosméticos afros”, “A construção da autoaceitação na relação intergeracional mútua”. As análises permitiram identificar vários achados e um deles está relacionado ao conceito de beleza que, construída em uma abordagem intergeracional mútua, entre mãe e filha, serviu para mediar o processo de autoaceitação dessas mulheres, além de o fato de fomentar uma forma de resistência aos padrões impostos pela sociedade.
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