A PIRATARIA E O JEITINHO BRASILEIRO: CONSUMO DE BOLSAS FALSAS POR MULHERES DE CLASSE ALTA E MÉDIA ALTA

Priscila Favaro Avelar, Ramon Silva Leite

Resumo


Fazer parte ou se manter em uma determinada posição social pode determinar o comportamento dos consumidores de produtos de luxo, sejam eles genuínos ou não. A premissa surge da análise de mulheres de classe alta e média alta no que tange aos seus interesses, estilos de vida e decisão de compra. Situadas em seus determinados grupos, elas trazem consigo um jeitinho de ser verdadeiramente brasileiro. O tão conhecido “jeitinho brasileiro”, prática comum em nosso cotidiano, pode refletir em alguns aspectos do comportamento do consumidor de falsificados. Por meio de uma pesquisa qualitativa, foram entrevistadas dezesseis mulheres pertencentes às classes alta e média alta, que demonstraram condições de adquirir o produto original. De forma complementar, foi utilizada ainda a técnica projetiva, com o uso de uma bolsa falsificada. Os dados, analisados por meio da análise de conteúdo, revelaram que, apesar de conseguirem adquirir o produto original, a possibilidade de transmitir status por meio da marca por um custo menor é um grande motivador para o consumo. Ademais, constatou-se que o produto original reúne os atributos que geram a expectativa de algo de qualidade, de projeção social e de satisfação. Apesar dessas sensações existirem também quando se usa um produto falso, a experiência da marca não é tão satisfatória: por saber o que porta, existe um sentimento muito maior de insegurança.


Palavras-chave


Jeitinho. Pirataria. Bolsa

Texto completo:

PDF

Referências


APPADURAI, Arjun. Disjuncture and difference in the global cultural economy. Public Culture, v.2, n.2, p. 295-310, Apr.1990.

BARBOSA, Lívia. O jeitinho brasileiro: a arte de ser mais igual que os outros. Rio de Janeiro: Campus, 1992.

BARBOSA, Lívia; CAMPBELL, Colin. Cultura, consumo e identidade. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006.

BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1979.

BOURDIEU, Pierre. O desencantamento do mundo: estruturas econômicas e estruturas temporais. São Paulo: perspectivas, 1979.

DAMATTA, Roberto. Carnavais, malandros e heróis: para uma sociologia do dilema brasileiro. Rio de Janeiro: Zahar, 1983.

DINIZ, Wagner Vicente; LEITE, Ramon Silva; PINTO, M. R. Mapeamento meta-narratrivo da produção acadêmica brasileira sobre falsificação. Revista Eletrônica de Administração, Porto Alegre, v. 23, n. 2, p.135-166, 2017.

DUBOIS, Bernard; DUQUESNE, Patrick. The market for luxury goods: income versus culture. European Journal of Marketing, v. 27, n. 1, p.35-44, 1993.

EDGAR, Andrew; SEDGWICK, Peter. Cultural theory: the key concepts. 2nd. ed. London: Routledge, 2008.

EMPRESAS e governo perdem R$ 146 bilhões para pirataria. Folha de São Paulo, 3 mar. 2018. Disponível em: . Acesso em: 07 nov. 2018.

FEATHERSTONE, Mike. Cultura de consumo e pós-modernismo. São Paulo: Studio Nobel, 1995.

FLACH, Leonardo. O jeitinho brasileiro: analisando suas características e influências nas práticas organizacionais. Revista Gestão e Planejamento, Salvador, v. 12, n. 3, p. 499-514, 2012.

FREITAS, Alexandre Borges de. Traços brasileiros para uma análise organizacional. In: MOTTA, Fernando Claúdio Prestes; CALDAS, Miguel P. (Org.). Cultura organizacional e cultura brasileira. São Paulo: Atlas, 1997. p. 38-54.

GOMES, Wagner Rocha. Construção (inter) cultural em uma instituição federal de ensino superior. 2013. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Programa de Pós-Graduação em Administração, Porto Alegre, 2013.

LOURENÇO Cléria Donizete da Silva. Cultura brasileira e marketing de relacionamento: um estudo etnográfico no varejo. Revista Brasileira de Marketing, v.15, n. 5 p. 47-64, 2014.

MALCHER, Alessandra. Victor Hugo, o famoso VH de bolsas, lança a primeira coleção de roupas femininas, a Victor Hugo Prêt-à-Porter. Click Uol, 20 jan. 2012. Disponível em: . Acesso em: 07 nov. 2018.

MOTTA, Fernando Cláudio Prestes; ALCADIPANI, Rafael. Jeitinho brasileiro, controle social e competição. Revista de Administração de Empresas, São Paulo, v. 39, n.1, p.6-12, 1999.

MUZZIO, Henrique. Cultura organizacional na perspectiva cultural regional brasileira. Revista Brasileira de Gestão de Negócios, São Paulo, v. 12, n. 37, p. 447-463, 2010.

PINTO, Marcelo de Rezende; LARA, José Edson. As experiências de consumo na perspectiva da teoria da cultura do consumo: identificando possíveis interlocuções e propondo uma agenda de pesquisa. Cadernos EBAPE.BR, Rio de Janeiro, v. 9 n.1, p. 37-56. 2011.

PRIPORAS, Constantino-Vasilios et al. Counterfeit purchase typologies during an economic crisis. European Business Review, v.27, n.1, p.2-16, 2015.

PUESCHEL, Julia; CHAMARET, Cecile; PARGUEL, Beatrice. Coping with copies: The influence of risk perceptions in luxury counterfeit consumption in GCC countries. Journal of Business Research, v.77, p 184-194, Aug. 2017.

RAMOS, Alberto Guerreiro. Administração e estratégia do desenvolvimento: elementos de uma sociologia especial da administração. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1983.

RANDHAWA, Praneet; CALANTONE, Roger J.; VOORHEES, Clay M. The pursuit of counterfeited luxury: An examination of the negative side effects of close consumer–brand connections. Journal of Business Research, v. 68, n. 11, p. 2395-2403, 2015.

REIS JUNIOR, Francisco Nunes; TORRES, Cláudio. As aparências se atraem: valores culturais e consumo de produtos de moda falsificados. Revista Thema, Pelotas, v.15, n.1, p. 119-132, 2018.

SCHOUTEN, John W; MCALEXANDER, James H. Subcultures of consumption: an etnography of the New Bikers. Journal of Consumer Research, Chicago, v.22, n. 1, p. 43-60, 1995.

SEMPRINI, Andrea. A marca pós-moderna: poder e fragilidade da marca na sociedade contemporânea. São Paulo: Estação das Letras, 2010.

SILVA, Pablo Medeiros et al. Materialismo e consume de produtos de luxo falsificados. Revista Ciências Administrativas, Fortaleza, v.23, n.23, p.446-458, 2017.

SLATER, Don. Cultura, consumo e modernidade. São Paulo: Nobel, 2002.

STREHLAU, Suzane. Marketing do luxo. São Paulo: Cengage Learning, 2008.

STREHLAU, Suzane; URDAN, André Torres; QUEVEDO-SILVA, Filipe. O valor percebido no luxo falsificado pelo cliente de artigo legítimo: uma investigação qualitativa. Revista de Administração da UNIMEP, v. 13, n. 3, p. 75-100, set./dez. 2015.

THAICHON, Park; QUACH, Sara. Dark motives-counterfeit purchase framework: internal and external motives behind counterfeit purchase via digital platforms. Journal of Retailing and Consumer Services, v. 33, p. 82-91, 2016.

VIEIRA, Clovis Abreu; COSTA, Frederico Lustosa; BARBOSA, Lázaro Oliveira. O “jeitinho" brasileiro como um recurso de poder. Revista de Administração Pública, Rio de Janeiro, v.16, n. 2, p. 5-31, 1982.

VIEIRA, Francisco Giovanni David et al. Silêncio e omissão: aspectos da cultura brasileira nas organizações. Revista de Administração de Empresas, São Paulo, v.1, n.1, p.1-11, 2002.


Desenvolvido por:

Logomarca da Lepidus Tecnologia